segunda-feira, 16 de abril de 2012

Minha Maria


A alvorada desponta e com ela chega um novo dia. Maria levantou-se da cama a sorrir e pestanejou para a imagem no espelho. Mesmo na dúvida e incerta do que a espera, procura sempre continuar o caminho que trilha a pequenos passos. Conheço bem cada traço do seu rosto: cada covinha, cada ruga de expressão… Cada um representa apenas mais uma maravilhosa marca que o passado lhe deixou e que lhe recorda as memórias que carrega no peito. Ri das histórias menos felizes e conta-as em jeito de anedota. Sei o que ela pensa quando age assim: muitas vezes é mais fácil sermos fortes do que tombar deixando a vida entregue à sorte ou à mercê dos outros. Sabe que caminhar com a consciência limpa é algo que ninguém, por muito bem que lhe queira, pode oferecer. Este é o motivo que a leva a estar frequentemente em solos áridos de pés descalços. Sei que o faz escondendo, por orgulho, as lágrimas que a atraiçoam e que lhe tentam cair pela face. Quantas foram as vezes que tentei dizer-lhe para parar e escutar os meus avisos… De nada adianta, quando se trata de uma mulher de personalidade forte! Limito-me a limpar-lhe, em silêncio, as feridas que se instalaram nos seus pequenos pés.
Vi-a em caminhos sinuosos parecendo cruel e dura para muitos dos errantes que caminham com ela. Essa aparência de girl how just say “I don´t care” ilude tantos os que julgam conhecê-la… mas não a mim! Maria carrega uma forte luz interior que a permite chegar onde quer mas que a faz carregar a dura cruz de não conseguir confiar quando o deve fazer. Creio que muitas vezes nem em si própria acredita, esquecendo capacidades inatas que os amigos lhe recordam a toda a hora que possui e que deveria usar mais. Ela sorri e faz teatro de artista continuando a caminhar com esperança de um dia poder ser verdadeiramente feliz. Nunca o admite mas sei que continuará a lutar mesmo quando as luzes fraquejarem sobre a sua cabeça.
O coração é algo que ignora e que deixou para segundo plano. Maria já se desiludiu tanto... Contudo encontrou alguém que a cativou desde o primeiro segundo, de forma tão forte e nova que a fez recuar. As aventuras e loucuras nunca foram algo que a caracterizasse, nem que procurasse voluntariamente experienciar. Sempre lutou pela estabilidade e previsibilidade na sua vida e na altura em que conheceu aquele anjo sorridente ainda estavam todas as feridas por sarar… Como poderia ela ignorar uma folha tão negra do seu passado que ainda estava a ser virada? Nada seria mais irresponsável do que se magoar a si e a terceiros por sentimentos que poderiam ser passageiros e superficiais. Na verdade, não o foram… Nem o são hoje em dia. Ela transmite-lhe indiferença mas pensa secretamente “segue-me agora”. Sabe tão bem como eu que o responsável por fazê-la novamente sorrir não suspeita do que sente por si. Esta pequena lutadora esconde as suas inseguranças e nervos quando o vê, na tentativa de ser forte e de conseguir com que as emoções reprimidas passem despercebidas.
Ela não sabe, nem conhece a sua natureza como eu. Tomo como facto a certeza que ela encontrará o seu caminho. As Marias da minha vida sempre conseguiram ultrapassar as dificuldades e sair triunfantes de caminhos sinuosos. Afinal, já fui uma delas. 

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