sábado, 4 de fevereiro de 2012

Voa!

“A partida não tem necessariamente que ser uma coisa má” – disse-me ela. Nesse momento estaquei com a brutalidade das evidências e pensei interiormente sobre o futuro. Aquela troca de palavras foi muito simples mas a autenticidade de cada sílaba era uma dádiva soberba. Nunca me ocorreria pensar até aquele momento que existe sempre a outra face da moeda... Ri-me pela primeira vez, como já não o fazia há muito tempo! Eram gargalhadas semelhantes às que nos saem do interior da alma e que aliviam as correntes que nos prendem ao chão.
“Não tenhas medo de chorar” – continuou. Mal sabia a minha querida amiga que, em tempos, guardei as lágrimas que deveria ter soltado e enviei cada uma ao céu para cair chuva. Estranhou a minha reação e olhou-me como se me visse pela primeira vez. Acredito que foi capaz de me decifrar, como se soubesse o que me ia no fundo da alma, porque soltou: - “Sempre te disse que tu és bem mais forte do que aquilo que pensas!”. A cumplicidade entre nós era algo inexplicável. Com ela não era preciso falar… Um olhar bastava!
Fixei aquele horizonte de fim de tarde, procurando decifrar cada nota daquelas ondas cintilantes que me enchiam a vista. Sabia tão bem que era eu que tinha as cartas na mesa e que estava ali, como poderosa senhora a controlar o meu destino! E ela também o sabia… Vendo-me tão segura de mim, percebi que foi quase que a medo que procurou o meu abraço. Deixei envolver-me, sabendo a responsabilidade que tinha pois carregava nos braços uma parte do meu mundo.
-“Estás feliz?”.
Ri-me: “-Estou, meu bem”.
– “Cresceste tanto e eu tenho tanto orgulho em ti!”.
Mais uma vez soltei gargalhadas:
“-A culpa é tua!”
“Minha? Não estarás enganada?”
“Não e sabes porquê?”
E foi depois do silêncio que lhe disse:
“Tu ensinaste-me a voar!”

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