sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O limbo

Olho atentamente para o céu que de um cinzento enegrecido envolve a rua. O ar aqui tornou-se inóspito e frio. O vento que me bate na cara são como lâminas afiadas que fazem cicatrizes não na pele mas na alma. Os passarinhos já não chilreiam de manhã á minha janela e procuraram outro abrigo mais seguro. Os passos no chão transformaram-se em silêncio profundo. A lua, minha eterna confidente, deixou de me visitar. As marcas do rosto emolduram a rigidez dos traços que outrora rasgados e sorridentes transformaram-se num poço de vazio. Se ao menos a esquecida felicidade oferecesse conforto á alma…


Ainda me sinto imóvel neste perpétuo momento que se quer imortal, fazendo-o não por vontade própria mas por necessidade de me abrigar nos braços de alguma coisa. A noite sentiu o cheiro do final e veio até mim. Ela cruel no seu masoquismo feliz pousou no meu ombro e ainda não partiu. A criança que reside em mim quer reagir e finge que está tudo bem. As lágrimas que chegariam para formar um rio, guardei-as e mandei cada uma na direcção do céu para cair a chuva. A ferida que se abriu é como tatuagem que perfurou a pele e se alojou para não mais sarar.

Há coisas que nem o tempo não cura, nem o corpo apaga.

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